REMO DE ALTA PERFORMANCE 
(Tradução livre e resumida do livro de JOHN McARTHUR – CROWOOD PRESS / 1997, sem fins comerciais, para consulta exclusiva dos atletas de Remo Olímpico.)
John McArthur é o Encarregado de Desenvolvimento da Amateur Rowing Association e um treinador pioneiro da selecção da Grã-Bretanha da equipa masculino peso leve. Conceituado fisiologista é também MSc em Ciência do Desporto.

Um dos mais enganosos conceitos sobre bem remar é que há diferentes técnicas para isso. Treinadores frequentemente pensam que para ter sucesso eles precisam conhecer os segredos de uma particular técnica, mas isso não é verdadeiro. A maioria das nações de sucesso está, em geral, de acordo com o que é eficiente: que é necessária uma rápida e viva conexão no momento em que as pás tocam a água; que as pás precisam ser aceleradas durante toda a remada; e que o movimento da volta – a recuperação – deve ser tão relaxado e controlado quanto possível.
Onde diferenças ocorrem é na ênfase que cada treinador coloca nos elementos que levam à boa técnica. Por exemplo, alguns acham muito importante desenvolver uma rápida aceleração final enquanto outros exigem mais concentração na aplicação da potência da pegada. O que deve ser lembrado é que não há um remador com perfeita técnica e eu ainda estou para conhecer um treinador (ou um remador internacional) que esteja 100% satisfeito com a técnica da sua guarnição que nós vemos quando olhamos para uma guarnição é o nível da sua técnica, naquele momento, e isso não é necessariamente o produto final.
Muitos podem acreditar que a técnica de remadores “top class”, que têm sido treinados pelo mesmo treinador por muitos anos, deve ter alcançado o estágio que representa o que eles e seu treinador têm se esforçado em atingir. Isto também é falso porque se sempre foi dito que a técnica busca a perfeição então não haveria lugar para melhora-la e, portanto a complacência estaria alojada. A par disso, como a biomecânica e a fisiologia do remo são, a cada dia, melhor entendidas, então a técnica tem gradualmente progredido. É raro nestes dias encontrar grandes oscilações do corpo nos extremos da remada como se via no passado e, em geral, o movimento do corpo – e em particular seu movimento no sentido vertical durante a remada – tem evitado. A ênfase é minimizar qualquer movimento vertical, mantendo o corpo durante a remada em uma posição mecânica vantajosa. Adicionalmente, é importante evitar qualquer perda desnecessária de energia no retorno, ou seja, na fase de recuperação da remada.

Procurando a máxima velocidade do barco

A boa técnica do remo é composta de duas fases distintas: a fase da propulsão, quando as pás estão na água, e a fase de recuperação, quando elas estão fora da água. Tem sido argumentado que como o barco continua a acelerar durante a parte inicial da recuperação esta parte da remada também deveria ser classificada como parte da fase de propulsão. Entretanto, como um remador está constantemente tentando minimizar os efeitos da aceleração/desaceleração, eu sinto que a classificação das fases como acima descrito é a mais apropriada.
Para encontrar a máxima velocidade do barco você necessita maximizar a aplicação horizontal da força durante a fase de propulsão e minimizar os efeitos do movimento em direcção a popa durante a fase de recuperação. Para encontrar isso é essencial que você tenha um entendimento do efeito que isso provoca na velocidade do barco. Há pouca vantagem em se tentar aumentar a velocidade do barco pela aplicação de mais potência na pegada se ao mesmo tempo você correr o carrinho durante o retorno, porque um movimento anulará os efeitos do outro. Você tem que entender a ideia da economia de movimentos.
Simplificando: tudo que você fizer no barco você pagará um preço, na forma de uma certa energia dispendida. Então, se você aceitar que possui apenas uma determinada quantidade de energia disponível, você deve se assegurar que, sempre que possível, ela seja aproveitada positivamente na velocidade do barco. Em um mundo ideal, aqueles movimentos que não contribuíssem positivamente na velocidade do barco seriam eliminados de vez. Entretanto, no remo, como em outros desportos, isso não é possível. Portanto você deve se assegurar que aqueles movimentos negativos usem tão pouca energia quanto possível, particularmente durante a fase de recuperação, onde os movimentos devem ser controlados e realizados sem afobação.
Na prática isso significa evitar todos os movimentos desnecessários, da cabeça, do tronco, dos ombros, dos braços e das mãos. E talvez, mais importante, se assegurar que, quando a posição correcta do corpo tiver sido encontrada, ela deverá ser mantida até que as pás, na pegada, estejam completamente cobertas. Aqui, deve ficar claro que o tronco não participa do movimento de encaixar as pás na pegada, o qual deve ser iniciado pelo levantamento dos braços e não pelo levantamento do tronco e/ou ombros. A sequência de movimentos na pegada é: levantar as mãos para encaixar completamente as pás e simultaneamente empurrar as pernas. Você nunca deve esquecer do fato de que no instante em que as pás entram na água elas agem como um freio para o barco.
Este movimento é talvez a parte mais difícil da boa técnica, envolvendo em si uma rápida mudança de direcção. As costas e os músculos abdominais devem estar firmes e prontos para absorver a energia criada pelo movimento das pernas. A falha em agregar esses músculos resultará em um escape das pernas em direcção à proa do barco sem qualquer efeito positivo. Isto é conhecido como “correr o carrinho”ou “escapar o carrinho” e remadores jovens são frequentemente culpados desse hábito. Isso pode ser causado por um insuficiente desenvolvimento dos músculos abdominais e lombares. Eles têm, frequentemente, fortes músculos nas pernas mas têm dado insuficiente atenção para o desenvolvimento dos músculos das costas e do abdómen. Essa falha também pode ser causada por uma atenção insuficiente à técnica durante os estágios iniciais do aprendizado. Muito frequentemente a boa técnica é sacrificada para colocar as guarnições competindo o mais cedo possível.
Na minha opinião, muitos remadores jovens são introduzidos nas regatas antes que suas habilidades técnicas estejam ao nível do seu entusiasmo ( ou do entusiasmo do seu treinador ) .
Esta falta de atenção à técnica no aprendizado torna muito mais difícil para ensinar a boa técnica aos remadores nos anos seguintes, levando os treinadores a gastar tempo para erradicar velhos defeitos em detrimento de ajudar a progredir e encontrar a técnica mais sofisticada.

Técnica do início ao final

Na detalhada descrição da moderna técnica de remo enfatizo aqueles pontos que considero de maior importância. Eu divido a remada em 4 fases distintas: A entrada da pá ou pegada, a fase de propulsão, a extracção da pá e a fase de recuperação. Esta divisão é meramente didáctica para possibilitar uma explicação da composição de uma única remada. Ou seja: na realidade o movimento deve ser fluente e contínuo de uma parte da remada para a seguinte e de uma remada para a outra e não deve ser percebido o ponto de início ou fim através de todo o ciclo. Se você puder identificar algum hiato então deve examinar sua técnica cuidadosamente e trabalhar para alcançar a completa fluência.

O Ataque

tec_remo_01No ataque, seu corpo deve estar em uma forte e erecta posição com uma pequena torção à frente da parte superior do tronco. É essencial que sua cabeça esteja alta e você esteja olhando para um ponto distante da popa do barco. Suas canelas devem estar na vertical com seus joelhos em uma abertura natural, isto é: nem juntos e nem muito abertos.
Seu ombro externo deve ser rodado em direcção à braçadeira seguindo a linha do punho do remo e deve estar um pouco mais alto do que seu ombro interno. Seus braços devem estar estendidos com as mãos separadas por aproximadamente duas larguras de uma mão. Seus punhos devem estar horizontais com os dedos em gancho sobre o punho do remo. O Ataque deve ser iniciada usando um rápido levantamento das mãos e braços enquanto mantém inalterada a posição das costas e ombros.

A fase de propulsão

tec_remo_02A fase de propulsão deve ser iniciada por uma forte e potente aceleração dos músculos das pernas. Nesse ponto os músculos das costas e do abdómen devem ser agregados de forma a prover uma sólida ligação entre a pá e as pernas. Falhar em manter esses músculos firmes e agregados resultará no escape do carrinho com a subsequente perda na eficiência da propulsão do barco. Ao mesmo tempo em que as pernas empurram, os ombros devem começar a acelerar na direcção da proa do barco. Quando os ombros começam a encontrar o final da remada, os braços devem vir fortemente em direcção ao corpo para manter a aceleração do barco. Ênfase particular deve ser colocada sobre o braço e ombro externo já que eles têm a máxima alavanca sobre a pá. Ao final da remada o tronco deve estar em uma posição relaxada e erecta. Os ombros devem apenas ter passado o ponto vertical e devem estar na mesma altura, relativamente ao barco, como estavam na pegada, enquanto o braço externo deve estar quase junto ao corpo.

A extracção da pá (final)

A extracção da pá é realizada empurrando para baixo a mão externa, antes de movimentar o tronco, até que a pá esteja completamente livre da água. De nenhuma forma o punho do remo deve tocar o corpo, pois causará uma quebra no fluxo da remada. A mão externa deve então empurrar o punho do remo avante enquanto a mão interna deve girar a pá para a posição horizontal. É essencial que a pá esteja fora da água antes de ir para a horizontal. Se não for assim resultará em um final ruim que pode desequilibrar o barco e certamente o tornará mais lento.

A fase de recuperação

tec_remo_03As mãos devem avançar na mesma velocidade com que vieram para junto ao corpo. Contrariamente à opinião geral, não há nenhuma razão para empurrar as mãos à frente muito rapidamente. Mesmo em alta voga, a velocidade das mãos na devolução deve ser um espelho do seguimento do barco e qualquer coisa mais rápida irá atrapalhar esse seguimento.
A consagrada sequências para o movimento de recuperação – mãos, tronco, carrinho – ainda permanece válida. O objectivo deve ser: estender os braços até estarem rectos, rodar o quadril até o tronco estar na correcta posição de ataque e apenas então começar a dobrar os joelhos para deslizar à frente.
É imperativo que as mãos tenham ultrapassado os joelhos antes de começar a mover o carrinho. Muitos treinadores ensinam que o tronco deve encontrar a posição de pegada no meio do caminho do carrinho. Mesmo que eu veja méritos nisso, eu prefiro que o remador encontre a posição da pegada antes de mover o carrinho. Isto proporcionará maior precisão, já que é muito mais fácil para ele identificar quando o carrinho está na posição final do seu curso do que julgar quando ele alcançou o meio do caminho. Assim como a maioria dos aspectos da técnica o que importa é que todos façam a mesma coisa ao mesmo tempo.
Assim que rodar o tronco, o apoio será transferido para as sapatilhas. Essa é uma das mais importantes partes de todo o movimento da remada. Se houver falha do conjunto e esse movimento não for realizado pela equipe ao mesmo tempo, haverá uma interrupção no seguimento do barco, tornando-o mais lento.
A velocidade do movimento à frente deve ser controlada e novamente deve estar relacionada com a velocidade do barco. É essencial que, assim que você se aproximar do ponto do ataque esteja preparado para inverter rapidamente o sentido do movimento. Se você correr o carrinho sem controlo em direcção à pegada não será possível fazer isto e inevitavelmente fará o barco ficar mais lento. Isso significa que desde que as pás saem da água você deve se preparar para inverter o sentido do movimento na próxima pegada.

Uma sequência completa

remada_completa